A OPORTUNIDADE NA FLORESTA
Projetar um complexo dentro da maior floresta urbana do planeta, a Floresta da Tijuca, pode a princípio parecer uma contradição. Um território que se constitui como o grande pulmão verde do Rio de Janeiro deveria, numa primeira aproximação, ser intocável. Mas o enorme fluxo de pessoas que diariamente se dirigem a uma das “sete maravilhas” do mundo moderno, o Cristo Redentor, subverte essa lógica original.
Como acomodar essa aparente “incompatibilidade”? Surge então possibilidade de se transformar esse antagonismo em uma oportunidade positiva. Para além da resolução de um complicado emaranhamento de fluxos e transportes, de usos distintos, pode-se aproveitar a passagem de até 6.000 turistas/dia para informá-los e conscientizá-los das riquezas da floresta e da importância da sua preservação.
A OPÇÃO PELA PAISAGEM
O concurso coloca uma questão crucial para o projeto: o grande número de vans e automóveis que deveriam ser abrigados em meio à Floresta da Tijuca. Isto requereu uma opção de partido que opunha duas situações bastante distintas: ou se elevava o estacionamento, obstruindo as visuais da paisagem e com o comprometimento do caráter local, um pouso na subida ao Cristo, ou se acomodava o estacionamento ao terreno, liberando a paisagem e as visuais aos visitantes, através de um corte, relativamente pequeno se comparados à importância do empreendimento e à escala monumental da natureza.
A ESTRATÉGIA DO PROJETO FRENTE AO PATRIMÔNIO
Uma edificação é objeto testemunho da vida e da arquitetura de seu tempo. Assim, como estratégia de projeto, considerou-se conveniente a clara demarcação das épocas das intervenções.
Propõe-se a recuperação das edificações originais, que receberão adições claramente identificáveis e justificáveis, necessárias para as novas funções anteriormente não contempladas.
O ORDENAMENTO DE USOS E FLUXOS
O projeto ordena os diversos fluxos e interferências que ocorrem e passam pelo local. São situações extremamente complexas, pois há interferências entre os circuitos de vans municipais que fazem o trajeto Paineiras-Corcovado, vans de agências que vêm da cidade, taxis, veículos particulares, além da necessidade de grande número de vagas de estacionamento, do embarque e desembarque do Trem do Corcovado e da absoluta necessidade de preservar a fluidez do trafego da Estrada das Paineiras.
A SOLUÇÃO DO PROBLEMA
O partido do projeto adotou como prioridades o passeio, como essência do sentido de se estar no Parque, e a paisagem, como protagonista exuberante. Para suavizar a implantação da Estação de Transferência, sua cobertura, um teto jardim permeado de vazios, uma nova topografia porosa, que configura um passeio e que conecta todo o complexo: estação, estacionamentos, plataforma de embarque do trem, hotel, salões de exposições, restaurante, lanchonete, café e centro de convenções.
O programa foi distribuído conforme as possibilidades das edificações existentes, pensando-se sempre em uma lógica de utilização integral dos espaços. Turistas e hóspedes passearão pelos novos circuitos das cotas das praças e da cobertura-jardim, um verdadeiro mosaico de espécies da Mata Atlântica. Ao longo do passeio, que se origina nas escadas da estação, ou na suave rampa que desce da plataforma de trem da Estação Paineiras, tem-se um mostruário da flora, um museu a céu aberto, com informações e dados ecológicos.
Passa-se pela Praça do Trem, onde, junto a espelhos d’água, estão as lojas e bicicletários. O final deste percurso é um mergulho sob o Pavilhão do Café, o antigo alpendre de 1915, com a visualização da paisagem através deste, e a chegada ao deck que defronta o vale do Rio Cabeça, e dá acesso à Lanchonete sob o Pavilhão; seguindo, pelo mesmo caminhar, atinge-se o Instituto Chico Mendes.
Mas antes, pode-se dirigir, pela Praça do Hotel, aos espaços de exposições e ao saguão de recepção. Ali, no pavimento térreo, removeu-se a parede dos fundos, para que mais luz penetrasse, e descortinasse a rocha que se transforma assim em pano de fundo deste espaço. No subsolo, fica o apoio do hotel e uma única cozinha central atende tanto ao restaurante superior, como à lanchonete e ao café. Os antigos apartamentos, recuperados e adaptados, ocupam os mesmos pavimentos originais, de 1921, mas dois grandes vazios proporcionam mais luz, melhor aeração e uma conexão visual com os demais andares.
Abrigando o Centro de Convenções, que conta com acessos independentes, um novo bloco é adicionado sobre o edifício do hotel. Ali, estarão o auditório, salas de conferencias e serviços correlatos. Entre o novo e o antigo, na antiga cobertura, os apartamentos do terceiro pavimento, não constante do projeto original, foram removidos e um novo restaurante panorâmico desfruta da belíssima vista até o mar.